terça-feira, 19 de abril de 2011

Os famosos Psicanalistas


D. WINNICOTT

J. LACAN



M. KLEIN

C. G. JUNG

S. FREUD






A origem da Psicanálise

Freud foi um neurologista e, em seu trabalho clínico, tentava aliviar os sintomas dos pacientes neuróticos. Ele quebrou vários tabus ligados à sexualidade e permitiu às mulheres que se emancipassem. É o primeiro filho do terceiro casamento do pai. Foi adorado por sua jovem mãe. Entrou na universidade em 1873. No instituto de fisiologia de Viena, Freud conheceu Joseph Breuer, médico judeu especialista em doenças nervosas.

Breuer conta um caso interessante a Freud. Ele tratava uma jovem mulher que sofria do que mais tarde viria a ser a histeria aguda. Ela esqueceu seu idioma, não bebia água. Tinha uma paralisia histérica. Anna O. ou Bertha Papenheim – jovem da burguesia vienense – tinha 20 anos quando os problemas começaram. Secretamente ela aspirava uma outra vida. A histeria é considerada a linguagem desse desejo refreado. Essa mulher foi a primeira analisada do mundo. No livro “Estudos sobre a Histeria” – escrito por Freud e Breuer – há o relato de vários casos. Ali é mostrado como tratá-las através do método catártico. Pela primeira vez essas mulheres eram ouvidas.

Freud chega à Paris em outubro de 1885. Era um jovem médico judeu de 29 anos, apaixonado por sua noiva Martha. Ele vai à Paris para assistir às aulas de Jean-Martin Charcot, o maior neurologista da época. Charcot nasceu em 1825, em uma família modesta. Era chamado de “Napoleão das histéricas”. Ele trabalhava no Hospício de Salpêtrière. Lá havia de 5 a 6 mil mulheres trancadas. As histéricas ficavam isoladas, acorrentadas, abandonadas seminuas em meio às imundícies. Através das grades elas recebiam comida feita de sopa fria e dejetos.

No Salpêtrière Charcot tinha material de experiência para - através de uma classificação e um método extraordinários - fazer uma tipologia, uma sintomatologia das afecções misteriosas que atingem o ser humano quando a razão vacila. Conhecida desde a Antigüidade, a histeria se manifesta para os cientistas - no fim do século - como uma ‘doença do útero’ que toma o corpo das mulheres. Para entender a origem das convulsões, os médicos deixavam suas pacientes em um estado de sonambulismo ou de sono acordado, a hipnose.

Em 1886 Freud instala-se em Viena e trata basicamente de mulheres da burguesia. Em 1889 ele atende uma paciente que ordena que ele se afaste dela e que não se mexa. “Não fale comigo, não me toque, escute-me”. A partir desse momento Freud abandona a hipnose e mantém a paciente na posição deitada em uma cama atrás da qual ele ficava sentado. Através da escuta dessa ‘fala caótica’ ele começa a relacionar os sintomas de suas pacientes a conflitos infantis não resolvidos.

Passa a ter contato com o médico otorrinolaringologista berlinense Wilhelm Fliess. Através da troca incessante de cartas entre eles, Freud vai elaborando sua primeira teoria do aparelho psíquico. Em sua teoria sexual Freud supõe que exista um trauma real para toda neurose. Acredita que as crianças sofram um trauma sexual real na infância. Depois de inúmeros questionamentos, ele percebe que a ‘teoria da sedução’ não dá conta do imaginário sexual de cada sujeito. Elabora então a teoria da fantasia. Para Freud, no inconsciente nada termina, nada passa, nada é esquecido. Nesse sentido, o sonho é a realização de um desejo inconsciente ou reprimido. E isso não se aplica apenas aos neuróticos, mas a todos. Sonho, ato falho, lapso, esquecimento. Tudo tem um significado. “Quem fala em mim ?”

Na virada do século Freud lança o livro “A Interpretação dos Sonhos”. Esse livro marca uma nova etapa na vida de Freud e o início das ‘noites de quarta-feira’. Brigado com Wilhelm Fliess por causa de uma história de roubo de idéias, Freud precisa transmitir seu saber.

A primeira associação freudiana foi denominada “Sociedade Psicológica da Quarta-Feira”. Freud reuniu em sua casa um grupo formado por médicos, historiadores e escritores, quase todos judeus. A primeira sessão foi realizada em outubro de 1902. Era um laboratório de novas idéias. Esses homens falavam sobre filosofia, literatura, mitologia e, sobretudo, sobre doenças psíquicas e mentais.

Viena – no início do século XX – estava marcada pelo declínio do império. Isso transformou-a no centro de uma cultura centrada na negação do futuro, no fascínio pela morte e no amor pela atemporalidade. Os filhos da burguesia rejeitam a ilusão dos pais. Poetas, pintores, músicos, escritores e cientistas recusam a própria noção de progresso. Entre esses intelectuais, muitos eram judeus. Um deles, Karl Kraus, era famoso por seus ferozes artigos. Crítico literário e político, fundou um jornal - “Die Fackel”, a tocha – no qual denunciava a corrupção e as idéias progressistas. Tornou-se um forte adversário da Psicanálise. Um de seus aforismos ficou famoso: “A Psicanálise inventa as doenças que ela diz curar”. Ele também foi adversário do movimento feminista nascente.

Em 1905 Freud publica seus “Três ensaios sobre a teoria sexual. O livro gera um escândalo, pois Freud atribui a crianças e adultos “normais” fantasias sexuais e comportamentos considerados patológicos, como a masturbação, sodomia, fetichismo e desejo de incesto. Ele elabora seu mais famoso complexo inspirando-se na tragédia de Sófocles, em que Édipo, rei de Tebas, marcado pela maldição dos deuses, mata seu pai e casa-se com a própria mãe sem saber. Freud chama de ‘complexo de Édipo’ uma representação inconsciente onde surge o desejo da criança pelo genitor do sexo oposto e hostilidade pelo do mesmo sexo. Esse complexo é uma etapa no desenvolvimento da criança entre 3 e 5 anos. Segundo Freud, toda criança passa por essa situação edipiana para superá-la mais tarde. Freud retoma todos os termos que existiam antes dele, como sexualidade, inconsciente, transferência, psicodinâmica, mas dá a eles um novo sentido e, é por isso que houve tanta oposição à Psicanálise. Esta acentua a idéia de que o sujeito é determinado por forças fora de seu controle. E isso era uma coisa insuportável, pois era uma perda de controle, o que existe muito menos nas outras psicoterapias.

Freud pôde teorizar isso porque a filosofia ocidental tinha chegado a um ponto muito avançado de reflexão sobre o sujeito consciente. A Psicanálise talvez não pudesse ter nascido antes de ter havido uma filosofia da consciência. Para percebermos que temos um inconsciente é preciso ter consciência.

No momento em que Freud efetua suas descobertas, médicos e psiquiatras alemães, austríacos ou franceses classificam doenças mentais de modo sofisticado, esquecendo o sofrimento dos doentes. Receitam-lhes tratamentos corporais, banhos, massagens, eletrochoques, hidroterapias, sem acreditar na sua eficiência. A Psicanálise contesta esse niilismo terapêutico, propondo ouvir o paciente e recriando a idéia de uma possível cura.

1907 é um ano importante: marca o encontro de Freud com Carl Gustav Jung, um ano após a primeira troca de cartas entre eles. Jung não era austríaco, não era velho, nem judeu. Freud estava preocupado com o fato da Psicanálise vir a se tornar uma empreitada paroquial. Para ele, ela pertencia a todo o mundo. Aluno de Bleuler, Jung ficou 9 anos nessa clínica. Depois de 3 ou 4 anos de correspondência com Freud, Jung escolhe um caminho diferente. Ele opta pelo misticismo oriental e a religião, todas essas coisas que Freud desprezava. Em 1913 Jung se afasta da psicanálise.

A idéia da curabilidade e da incurabilidade povoa a área da psiquiatria e das doenças psíquicas muito mais do que na Medicina. É verdade que a Medicina consegue durar as doenças, mas quando se cura uma doença, aparece outra. Não é mais a mesma. Encontraram a cura da Sífilis, mas surgiu a Aids. Quando a Aids sumir, haverá outra. A doença, como demonstra Bichat, é como a morte: ela faz parte do corpo biológico.

Sempre haverá doenças e uma Medicina para tratá-las. Ocorre a mesma coisa com a Psicanálise. O que ela fez ? Curou a histeria dos anos 1880. Mas o que aconteceu ? As pessoas, em vez de ficarem histéricas, ficaram depressivas. As doenças e os sintomas mudam na mesma proporção em que se inventam técnicas para curá-los. Mas nunca se chega ao fim de nada. Isso vale para a Medicina e também para a análise.

Texto por Kelly C. Brandão